domingo, 16 de março de 2014

Sobre viajar só (por um tempo longo)


A medida que nos distanciamos no tempo e espaço daquilo que conhecemos e que nos assegura, mergulhamos cada vez mais em nós mesmos.


Viajar só é um atrevimento, uma loucura, um ato de coragem. É sair de qualquer zona de conforto para encarar nossos monstros internos, acorda-los de dentro do porão da alma e olhá-los no olho.

Viajar só é se descobrir a cada instante através do confronto com a alteridade completa. Linguística. Espacial. Emocional.

Viajar só é liberdade completa, mas também solidão. É abertura para o novo. Para o outro. É olhar a vida lá de longe e poder assim vê-la com mais nitidez.

Viajar só é intenso. Lindo. Cansativo. Cade meu coração? Onde é que eu o deixei nesse mundo sem portas? Nas nuvens vistas de cima no avião? No carro daquela carona, na estação de trem? Não é tão simples quanto pensa.

A gente volta outrem. Mais rico, menos ingênuo. Calejado de pedras mas acreditando nos encontros. E ri de coisas banais da rotina dos que estão mergulhados no seu mundinho.

Não é fácil mas é lindo. Dói mas vale a pena.

A alma cansa, envelhece. Volta um pouco mais sabida e calejada. Mesmo se esse saber vem da certeza do incerto...



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Esta pequena reflexão foi feita nos momentos finais de minha viagem, quando jantava em um pequeno restaurante enquanto esperava um trem. Observava um senhor conversando com o garçom... eram os dois com certeza imigrantes, e falavam sobre as dificuldades de se viver em Paris.

Naquele momento me senti quase como uma "infiltrada" naquele mundo, e ao mesmo tempo tão pertencente a ele. É e não é diferente da nossa realidade brasileira. E assim escrevi este excerto, que sobre tudo fala sobre MUDANÇA (e olha que os entendidos dizem que estamos no ano de Shiva, haha). 

É a partir deste pequeno escrito que inauguro uma nova fase deste blog. Uma fase completamente livre, onde há apenas alguém querendo trocar com outros. Esse alguém traz muitas bagagens e utiliza-se delas, mas... sinceramente, espero poder aprender muito ainda nessa vida. Não a toa, aos 30 anos continuo estudando e espero o continuar por toda a minha vida.

E o Yôga? É claro que vai ter e muito! Pois faz parte de quem eu sou. Mas para além, espero colocar mais poesia neste espaço. Receitas? Claro! Ética? Sim! Não tirarei nada, mas pretendo expandir. E continuarei, sempre, convidado à quem me lê para TROCAR. Perguntem. Critiquem. Peçam para que eu escreva sobre qualquer assunto. Como diria um grande professor com o qual tive o prazer de entrar em contato, é na relação que a vida se constrói (Pierre Rosanvallon).

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