quarta-feira, 21 de junho de 2017

Sobre presentes, consumismo e a construção de uma relação com a criança


Chega enfim o aniversário de 2 aninhos da nossa filhota. O primeiro aniversário onde ela entende todos os símbolos que esta data traz.

Bolo, parabéns, dia especial, montanhas de presentes. Tudo muito estimulado socialmente e naturalizado. Qual é o problema disso?

Estamos tentando criar a Alice de uma forma um pouco diferente do senso comum, nos baseando nos valores que queremos passar para ela e que vão bastante contra a corrente para a maioria das pessoas.

Doces não são tratados como recompensa ou o maior prêmio que se pode ganhar. Na verdade a Alice nunca comeu açúcar. Já comeu bolo sim (e veja bem, não temos nada contra bolo!) – só que sem leite (ela já toma o da mamãe dela e preferimos deixar o da vaca para o bezerro) e sem açúcar (adoçado com frutas). Ela ama. Não é algo de todos os dias, é especial e ela sente isso. Ela não sente a falta do açúcar porque nunca provou. Para que a formação do paladar da nossa pequena gourmet continue indo bem como está pedimos para que você sempre pergunte para os pais antes de oferecer um alimento (não somente para a Alice, para qualquer bebê – você não sabe se ele tem alguma alergia ou intolerância).

O dia dela é especial! Sim! E é uma delícia receber parabéns e o abraço apertado de quem amamos!

Mas para fazer desse dia único NÃO precisamos de uma enxurrada de presentes que nem cabem no quarto dela e que muitas vezes gerarão mais frenesi pela quantidade do que o que eles são. Esse costume nos insere por definitivo na lógica do consumismo, onde nos tornamos seres insaciáveis e muitas vezes descontamos nossas carências e frustrações adquirindo mais e mais itens supérfulos – lógica da qual queremos preservar nossa pequena o máximo possível. Sabemos que esse é o costume da nossa cultura: presentear para mostrar o carinho, amor e consideração. Consideramos todas essas demonstrações ricas e preciosas, por isso elaboramos algumas sugestões para você que quer presentear a Alice:
  1.   Dê a sua presença: ela é o melhor presente! Faça uma visita. Passe a tarde brincando com a Alice. Pense em um passeio gostoso (se a Alice não tem ainda uma relação de confiança com você ou você não se sente seguro em ficar sozinho com ela o papai ou a mamãe podem ir junto dar um suporte); um parque, um teatro, uma visita à um santuário de animais (preferimos estes, que cuidam de animais resgatados, do que os zoológicos)... as opções são do tamanho da sua criatividade. Para a Alice estar com você será muito mais significativo para edificar um laço de carinho do que ganhar uma barbie.
  2.  Se você quer dar um objeto físico, escolha de preferência algo seu ou de seu filho, que traz toda a sua história junto. Além de ser uma atitude sustentável, é muito mais divertido! A boneca preferida da Alice é a Catita, que tem mais de 60 anos de idade e foi da vovó dela quando era bebê.
  3.  Se mesmo assim para você for importante comprar algo novo para a Alice, pedimos que sejam roupas (ela veste 3 anos e calça 22 – pedimos para que você saia um pouco do rosa... a cor preferida dela é amarelo), livros (ela já consegue acompanhar histórias e tem uma pequena biblioteca, mas pedimos que não sejam de princesas, pois queremos criar uma mulher forte e independente e não uma donzela frágil que precisa ser resgatada) ou brinquedos de madeira – em especial instrumentos musicais. Enfim, presentes menos esteriotipados e estigmatizantes ;-)

Espero que você não nos leve a mal. Podemos parecer chatos, mas pense que estamos fazendo de tudo para criar uma futura cidadã que tenha os melhores modelos possíveis. E esses são os nossos valores. Respeitamos se não forem iguais aos seus. Só pedimos que também nos respeite.

Um abraço


Júlia e Jack

Um comentário:

  1. Júlia, gostei muito do seu post. Eu penso como você, mas sempre que vou em um aniversário me sinto na obrigação de levar algum presente, pois todo mundo leva. Eu ia em festas infantis e não levava presentes e acabava me sentindo mal. Já que eu sentia que tinha que levar algum presente para crianças que tem muitos recursos, eu passei a SEMPRE levar um livro. Acho que acabei virando especialista em livros infantis! Eu vou na livraria e leio TODOS os livros que vou dar de presente e escolho um que tem a ver com a criança. As crianças amam ganhar os livros que eu dou e já esperam por eles. Isso me fez super bem, porque consegui transformar uma tradição em algo significativo e que não ia contra meus valores, já que livro nunca é demais e quando se tem sobrando, as pessoas geralmente doam, pois não faz sentido acumular.
    A minha irmã SEMPRE dá um brinquedo educativo. Ela entende melhor esse universo, pois é terapeuta psicomotricista, então ela observa a criança e dá aquilo que ela acha que vai ajudar no desenvolvimento dela. E como ela mesmo diz: eu dou coisas que eu sei que os responsáveis não vão dar. Ela dá brinquedos de madeira, massinha, geléia, etc, pois é importante que a criança conheça diferentes texturas e não só plástico e eletrônicos.
    Agora, quando é uma criança que não tem condições financeiras, eu SEMPRE pergunto o que ela está precisando. E SEMPRE que dou uma roupa, eu dou de cor neutra ou colorida seguindo o raciocínio de expor a criança a diferentes cores e aquilo que ela talvez não tenha, fugindo os esteriótipos de rosa para menina e azul para menino.
    Eu sou muito preocupada com consumismo. Acho muito prejudicial expor a criança a tanto consumo. Mas, se não tiver jeito, eu acredito que ensinar a criança a desde cedo separar uma parte daquilo que ela ganha para doar é muito importante. Aprender a doar não só coisas velhas (restos), mas também coisas novas.E ela mesmo separar, levar no lugar de doação e dar. As crianças são muito generosas se ensinarmos isso a elas. Assim, estamos evitando o consumismo e mostrando a importância de compartilhar as oportunidades e a prosperidade que temos.

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