segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Fugindo da banalização do corpo e do toque

Enfim escrevo sobre o yama do mês - bramácharya. Assunto difícil... sempre delicado se falar de sexualidade, sempre muito fácil de se ser mal compreendido.

Para além do que já está escrito no Código de Ética do Yôgin, gostaria de colocar aqui um pouco da minha vivência e visão sobre o tema. No momento atual há uma forte polarização no ocidente: ou a sexualidade é condenada e fortemente reprimida, ou esta é banalizada e, tornando-se um mercado, pede-se por completo a magia do que é um encontro entre seres humanos.

Recentemente chegou a mim pelas redes sociais um texto sobre 'como as mulheres sofrem quando são convidadas para um encontro romântico'. Relatava os cuidados femininos e as neuroses comuns e bastante estereotipadas, que retratam a imagem feminina da sedução X conforto/saúde. Calcinhas desconfortáveis, sapatos assassinos, dietas malucas. O que mais me incomodou não foi o texto, mas o fato de haver centenas de mulheres dizendo em comentários que se reconheciam neste retrato. Apoiando a imagem da mulher-objeto, da Barbie desesperada para causar uma 'boa impressão' em seu par por trás de uma máscara que na realidade não é ela.

Intimidade e entrega nos relacionamentos tornaram-se artigo raro. E um mundo onde se fala muito em revolução feminina, observa-se ainda muito machismo por parte das próprias mulheres. Nessa perspectiva ocorrem alguns fenômenos: para alguns, principalmente os mais religiosos, o sexo é um grande tabu, e por isso mesmo, quando ocorre há ou dificuldade de abertura e troca, ou perversão - pois o que é muito reprimido geralmente explode depois. Para outros, não há repressão, mas ao mesmo tempo deixou de haver também a valorização desta parte tão bonita e importante de nossa existência.
Passei a minha adolescência e início da juventude no meio teatral, onde a sensibilidade, emoções e o toque são ferramentas de trabalho - o ator precisa lidar com naturalidade em qualquer situação que seja colocado, seja uma cena de beijo, briga ou estupro. É atuação. O corpo é instrumento de trabalho. Percebi que, se por um lado essa cultura faz com que as pessoas tratem do assunto de maneira leve e descomplicada, por outro era claro de que havia uma dessensibilização. O toque, o carinho, o beijo, a descoberta do corpo de outrem possuem alguns rituais que, quando se perdem, fazem com que a interação se empobreça e diminua sensivelmente seu colorido.

Por isso, para mim pensar a não-dissipação da sexualidade é pensar a valorização das relações - em quantidade e qualidade: selecionando bem com quem se está e podendo estar por inteiro com o parceiro. Quem já vivenciou uma abertura, troca e entrega verdadeira e profunda de seu íntimo com a pessoa certa sabe do que eu estou falando.

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