domingo, 6 de janeiro de 2013

Sobre cegueira e egoísmo

Sou judia e durante minha infância e adolescência fiz parte de um movimento juvenil judaico sionista de esquerda chamado Hashomer Hatzair. Devo boa parte da minha formação como cidadã crítica a esse movimento e posso dizer que boa parte dos meus melhores momentos nesta fase ocorreram naquele espaço.

Em 1995 um fato me marcou profundamente: Yitzhak Rabin, o primeiro ministro israelense que assinou o famoso Acordo de Oslo com Yasser Arafat (quem não se lembra do legendário aperto de mãos, com Bill Clinton posando de Papai Noel?), foi assassinado por um judeu israelense de extrema direita. Eu tinha então 12 anos e não conseguia entender o porque desse absurdo. Talvez até hoje não compreenda totalmente. O maior líder da paz neste conflito, prêmio nobel, morto por... um judeu israelense!

Quando, em 2001, Ariel Sharon (conhecido pelos árabes como 'O açougueiro' - ok, eu sei que depois ele fundou o Kadima, mas na época essa era a posição dele), na época membro fundador do partido Likud, foi eleito primeiro ministro, o golpe foi forte demais. Perdi as esperanças, em um certo sentido na própria humanidade. Como um cara desse poderia ser eleito? Por que tantos queriam continuar essa guerra maluca? Por que um povo que sofreu tanta perseguição e discriminação não coloca a paz acima de tudo?

Assim, acabei por me afastar do sionismo e toda a militância e entrei em uma fase um tanto cética e desiludida com relação à própria natureza humana. Será mesmo a natureza do Homem mesquinha, competitiva? Quem está certo, Rousseau ou Hobbes? Eu era nova demais para conseguir relativizar e queria respostas totais.

Um ano depois disso conheci o Yôga e pude me agarrar mais uma vez a algo lindo, que mostrava o lado bom das pessoas. Com o tempo vi que a ética descrita por Patáñjali é um desafio para todos, e que a absoluta maioria dos praticantes não consegue segui-la, incluindo os instrutores! Muitos, depois percebi, nem tentam realmente. Isso mais uma vez me frustrou. Me agarrava aos dizeres do meu antigo mestre, DeRose: "Yôga é uma filosofia perfeita praticada por pessoas imperfeitas".

Sim, somos imperfeitos e sempre seremos. Deus é a abstração da perfeição que se busca como modelo utópico, sempre inalcançável. Mas o que percebi, tanto no caso de Israel quanto no ambiente do Yôga é que para muitos há um belo discurso sobre ética, valores e aprimoramento que é totalmente contradito com as ações na prática! Alguém que teve sua família vítima do holocausto agora se declara no direito de matar, oprimir, pois é o povo escolhido. Alguém que ensina Yôga e se preocupa demasiadamente com a aparência (veja bem, não estou falando que se deva ser um largado), mais do que com a própria prática ou com ética, na minha opinião é um hipócrita.

Em 2012 fui convidada a assumir um cargo de coordenação no movimento juvenil do qual fiz parte. Qual não foi minha tristeza ao ver a falta de apoio que este recebe da comunidade! Ao ver que um grupo que quer educar para a paz e para o diálogo, para a formação crítica e reflexiva dos jovens, tem pouco espaço aqui. Passamos o ano, entramos em 2013 para comemorar 100 anos de existência do Hashomer Hatzair no mundo e isso me dá esperança: se um movimento tão contra a corrente como o Hashomer, que defende a igualdade e a paz conseguiu se manter vivo, talvez esse nosso mundo tenha alguma solução.

No caso da minha tão cara filosofia de vida, percebi que não é todo mundo que quer e se propõe mesmo a segui-la, e isso não é de maneira nenhuma um problema. O Yôga pode ajudar em muito as pessoas a serem melhores e mais felizes em diversos níveis e aspectos - depende do quanto cada um quer e se propõe a mudar. O que eu ensino afeta a vida de meus alunos e muda cada uma de uma forma diferente...

Talvez a natureza do Homem não seja tão cega e egoísta assim.

Um comentário:

  1. e deprimente mas verdadeiro a grande maioria das pessoas só consegue enxergar o próprio umbigo

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