quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aplicando desintoxicação emocional e ética

O nome dela é Conceição. Uma moça de trinta e poucos, quatro filhos e um neto. Bonita, cheia de energia e muito simpática - fica evidente pelas suas ações que quer me agradar e fazer tudo da melhor maneira. Mas Conceição não me conhece - me viu duas vezes apenas. Na primeira vez chegou em casa umas 8h da manhã e passamos a manhã inteira juntas. Expliquei tintim por tintim o que e como eu queria que ela fizesse. Falei o quão importante era pra mim que tivesse cuidado com minhas coisas e com o ambiente que estou construindo aos poucos com tanto carinho e apreço. Ela ouvia atenta, sempre concordando. Disse, por exemplo, que era muito importante que todos que entrassem chegassem tirassem os sapatos na entrada, que eu tenho tapetes que precisam de cuidados específicos e as pantufas estão no meu Hall para serem utilizadas. 

Saí depois do almoço e sabia que quando retornasse ela não estaria mais lá. Quando cheguei a primeira reação foi a de se sentir invadida: as coisas fora de lugar, a calça com marcas do ferro, a panela wok que eu tanto gosto enfiada dentro do forno e com o tefal arranhado entre mil outras coisinhas... "Júlia, respira!"

Estou há alguns meses vivendo pela primeira vez a rica experiência de morar sozinha. Recomendo a todos: aprendo cada dia mais sobre mim mesma, rotina, emoções, organização e maneiras maduras e saudáveis de estar no mundo. Só que esse processo passa por períodos de dificuldades e muita aprendizagem, como por exemplo, colocar dentro da sua casa uma pessoa desconhecida para fazer a faxina. Temos muito mais apreço pelas coisas que batalhamos mais para conquistar, e hoje tenho uma relação de especial carinho com esse cantinho que estou aos poucos tornando meu.

Nessa experiência senti o quanto é difícil trabalhar o nosso código de ética quando as situações possuem um apelo emocional mais forte. Eu fiquei brava. Eu estava apegada àquele espaço e, ainda por cima tinha que tomar cuidado para que em nome de ser honesta com um ser humano que estava buscando fazer o melhor que podia, eu não fosse rude. Respira.

Encontrei uma solução interessante, motivo pelo qual estou deixando esse relato aqui no blog: escrevi. Escrevi tudo que me incomodou, tudo que senti, tudo que achei que deveria ser diferente. O resultado foi impressionante: todas aquelas emoções viscosas saíram de dentro de mim, e quando Conceição me visitou novamente eu olhei aquela lista, selecionei o que realmente valia a pena ser falado e como. Resultado: ela já aprendeu bem mais a maneira como gosto de cuidar e organizar, e veio dizer que 'me adorou'. Preservei satya,  ahimsá e sauchan; trabalhando de quebra um pouco de aparigraha!

Fica então a dica, que tirei do super curso Fazer Acontecer do Prof. Charles Maciel: escreva tudo. A partir daí é muito mais fácil fazer essa limpeza e soltar essas amarras emocionais que nos prendem.

2 comentários:

  1. Oi Ju, obrigada por compartilhar sua experiência , pois o que vc nos relatou é realmente vivenciar o conhecimento em situações práticas. Quando partimos para este caminho de prestar atenção às mudanças começam a ocorrer desde que queiramos ! Um beijo grande e parabéns pelo artigo, vc escreve de um jeito gostoso, mostrando verdade e nos inspirando a prestar atenção cada vez mais e mais ! Um beijo. Geisa

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  2. Geisa querida!

    Esse é exatamente meu objetivo com o blog: compartilhar experiências e pensamentos para podermos refletir juntos sobre valores, vida e escolhas. Por isso sempre convido à todos a comentar, fomentando assim esse diálogo que nos faz crescer e é tão gostoso.

    Obrigada pelo comentário afetuoso.

    Um grande beijo

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